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A Importância da Música no Desenvolvimento da Criança

(Rosa Maria MIchels Fontoura)

Desde o seu nascimento, a criança entra em contato com o ambiente sonoro que a circunda, ou seja, os mais diversos sons produzidos por pessoas, por animais e por objetos.

A criança recém-nascida adormece com facilidade ao som de cantigas de ninar e reage a estímulos sonoros – como campainhas, apitos e chocalhos – movimentando seu corpo. Reage de modo especial aos sons da voz humana.

Qualquer objeto com o qual o bebê interage, e que produza sons, torna-se para ele um “instrumento musical” com o qual brinca.

Segundo Nicole Jeandot: “Antes mesmo de nascer, ainda no útero materno, a criança já toma contato com um dos elementos fundamentais da música – o ritmo – através das pulsações do coração de sua mãe”.

A criança pequena, antes mesmo de aprender a falar, cantarola e acompanha músicas com movimentos do corpo: palmas, movimento pra frente e para trás, balançando o tronco e os membros, movimento de cabeça e outros. Ela também tenta emitir sons com a garganta, como balbucios repetitivos, às vezes acompanhados de gestos. “É a partir dessa relação entre o gesto e o som que a criança – ouvindo, cantando, imitando, dançando – constrói seu conhecimento sobre música” (Nicole Jeandot, p. 19).

Os estudos de Jean Piaget, renomado biólogo e educador suíço, explicam a capacidade de “conhecer” como sendo a capacidade do indivíduo de estabelecer relações. Com a música não é diferente. Por meio da interação com sons, se torna possível o conhecimento e a vivência musical. A partir das experiências musicais, e das sensações obtidas por meio da música, o pensamento da criança vai se organizando, a acuidade auditiva vai se aperfeiçoando e ela vai paulatinamente desenvolvendo as habilidades de organização, seriação e classificação.

Pelo fato dos sons não serem palpáveis – não é possível segurá-los nas mãos como os instrumentos musicais – a criança reconhece sua existência, porém lida com eles de uma forma diferente daquela usada com outros materiais ou matérias primas.

A música pode ser um ótimo meio para divertir, sensibilizar, relaxar, prender a atenção, extravasar, estimular a criatividade, a concentração, a desenvoltura e a imaginação, aprimorar a habilidade motora, o domínio corporal, a afinação e o equilíbrio emocional da criança, dentre outros benefício proporcionados por ela.

A criança se entrega à exploração sonora – seja de canção, de audição, de dança ou de manuseio e criação de instrumentos musicais – com o mesmo prazer que se envolve numa brincadeira. “A música representa uma importante fonte de estímulos, equilíbrio e felicidade para a criança” (Weigel, p.12).

Através do lúdico, a criança une razão e emoção. Toda vez que a criança repete uma fórmula musicada, uma melodia ou um refrão, sua memória auditiva entra em ação. Existe uma infinidade de jogos e brincadeiras musicais que trabalham o movimento corporal juntamente com a canção. O ritmo corporal e o ritmo da fala se fundem durante as brincadeiras cantadas. Ao desenvolver a noção de ritmo, a criança consegue tornar seus movimentos mais precisos, melhorando sua coordenação motora grossa (movimentos grandes e médios) e fina (pequenos movimentos) bem como sua dicção.

Contudo é importante ter em mente que a música não toca as pessoas da mesma maneira. A música tem o poder de despertar reações emocionais que não aconteceriam sem a presença dela. Neste sentido, a ela estimula o desenvolvimento emocional da criança, proporcionando a vazão de sentimentos e de afetividades além, é claro, de propiciar satisfação.

Sendo uma forma de expressão, a música transmite e comunica sentimentos e emoções. “A música constitui uma possibilidade expressiva privilegiada para a criança uma vez que atinge diretamente sua sensibilidade afetiva e sensorial” (Jeandot, p. 20).

As atividades musicais coletivas proporcionam momentos de socialização infantil, já que as crianças tendem a se ajustar ao grupo e a participar das regras embutidas nele. Pertencer a um grupo, participar ativamente e ser aceita por ele, faz a criança desenvolver a consciência grupal e o sentimento de segurança. Assim a criança vai aos poucos compreendendo que “agora é a vez do outro” e quando for a “sua vez” isto será respeitado pelos demais, porque todos têm a sua vez de tocar ou cantar.

A construção do senso estético musical, ainda que precária (gosto/não gosto; bonito/ feio), vai acontecendo aos poucos, a partir da escuta de músicas de diversos gêneros, de sons e da produção sonoro-musical da própria criança. Daí a importância de oferecer à criança um cardápio musical variado que sirva de referência para a construção de seu senso estético.

 

Bibliografia:

1)    Jeandot, Nicole. Explorando o universo da música. 2 ed. São Paulo: Scipione, 1993

2)    Weigel, Anna Maria Gonçalves. Brincando de música. Porto Alegre: Kuarup. 1988

3)    Penna, Maura. Reavaliações e buscas em musicalização. São Paulo: Loyola, 1990

4)    Jourdain, Robert. Música, cérebro e êxtase. Rio de Janeiro: Objetiva, 1998

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