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A Canção para Crianças – que canção é essa? – Por Rosy Greca

Parte 2 – O cancionista para crianças

A arte para crianças nasce do desejo do artista em se comunicar com elas. A partir deste desejo, o cancionista procura intuir, evocar, mergulhar no imaginário infantil. Seus criadores quase sempre são motivados pelo próprio
contato que têm com as crianças.

São músicos e/ou poetas que, motivados pelos encantos e desafios da paternidade, improvisam pequenas canções para seus filhos dormirem, brincarem, imaginarem, se divertirem. Acabam por tomar gosto pela “coisa” e enveredam-se pelos caminhos da produção cancional para crianças, como é o caso de Taciana Barros, Arnaldo Antunes, Antonio Pinto, Edgar Scandurra,entre tantos outros.

São professores que, músicos profissionais ou apenas “arranhando um violão”, veem na canção uma possibilidade de encantamento em sala de aula, uma fonte de prazer e de conhecimento aos alunos, uma inspiração para as atividades escolares, um caminho para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares, além de regozijar-se, eles próprios, pelo simples prazer que esta atividade lhes proporciona. Temos aí Márcio Coelho, Paulo Bi, Zé Zuca, Milton Karan, entre outros tantos professores/artistas que acabaram se profissionalizando em tal tarefa.

Falamos ainda de compositores ligados ao teatro e ao cinema infantis que, ao compor sistematicamente trilhas sonoras, com o tempo extrapolam esse espaço de atuação e se iniciam no campo da produção fonográfica e de shows musicais para crianças, como foi o meu caso.
Enfim, falamos de pessoas que, uma vez mergulhadas neste universo, deixam-se cativar por seus encantos e desafios e passam a compor e produzir sistematicamente para a infância, profissionalizando suas atividades voltadas
ao público infantil.

Compor para crianças constitui-se em uma tarefa árdua e desafiadora. Leny Magalhães Mrech, em seu ensaio Além do sentido e do significado: a concepção psicanalítica da criança e do brincar, nos diz que ao longo da história, os adultos realizam processos transferenciais junto ascrianças a partir de seus próprios conteúdos e representações e, quando fazem, acabam por perder irremediavelmente a verdadeira realidade psíquica da criança. (MRECH, 1999).
Assim, a canção para crianças, como toda a arte a elas dirigida, corre e sempre correrá o risco do equívoco, uma vez que possui, como condicionante, o fato de haver um adulto tentando representar o mundo simbólico e sensível
da criança. Tentar encontrar uma explicação à relação mágica e metafórica existente entre o cancionista adulto e o ouvinte mirim pode ser talvez um esforço vão.

Maria Clara Machado já dizia que a arte de escrever para criança, como toda criação verdadeira, continua tão misteriosa como há um século. Talvez o melhor mesmo que o cancionista tenha a fazer é respeitar esse mistério e apenas criar, tratando de mergulhar da forma mais sincera e sensível no imaginário infantil. Através dessas tentativas, muitos deles acertaram emcheio, criando verdadeiras obras-primas para crianças.

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